Quando o Banco Central do Brasil anunciou que estava estudando a criação de sua moeda digital (CBDC), o Drex, a proposta já gerava grandes expectativas.
Quando o Banco Central do Brasil anunciou que estava estudando a criação de sua moeda digital (CBDC), o Drex, a proposta já gerava grandes expectativas.
Diferentemente de outras jurisdições, o Banco Central (BC) decidiu desenvolver o real digital de maneira transparente, participativa e documentada. Essa abordagem foi adotada porque o BC reconhece que uma infraestrutura pública digital só pode prosperar com diálogo e transparência no ecossistema.
Construir em público é um risco. Isso significa ter que acertar diante de todos, mas também errar sob os holofotes. É abrir mão do controle em prol de um processo coletivo. Por isso, mesmo diante de desafios, restrições orçamentárias e pressões regulatórias, o Drex continua a evoluir com a participação ativa do mercado.
Antes mesmo de desenvolver o código, o BC criou um ambiente propício à inovação: o LIFT Challenge Real Digital, em parceria com a Fenasbac, a federação dos servidores da instituição. Em vez de criar um protótipo fechado, o BC convidou o mercado a cocriar.
Testes do Drex, o real digital
Foram realizados diversos projetos testando ideias em ciclos curtos de experimentação — desde câmbio atômico e crédito rural automatizado até modelos de liquidação com ativos digitais públicos e privados. Essa foi uma das raras ocasiões em que um país transformou um laboratório regulatório em uma arena pública de inovação para infraestrutura monetária.
Com os aprendizados do LIFT, teve início a Fase 1 do Piloto Drex. O foco dessa etapa foi simular o ciclo completo de tokenização de ativos — especificamente, títulos do Tesouro — com liquidação via Drex. Na prática, isso significou integrar a emissão de Drex-Reservas, a negociação de ativos tokenizados e a execução de contratos inteligentes em uma arquitetura baseada em tecnologia de registros distribuídos (DLT), garantindo interoperabilidade entre os nós das instituições participantes e o nó operado pelo próprio Banco Central.
A escolha pela blockchain Hyperledger Besu foi mais do que uma decisão técnica; representou um compromisso com modelos de rede permissionada, voltados para rastreabilidade, auditabilidade e resiliência regulatória. Os testes revelaram ganhos em eficiência e automação, mas também destacaram limitações estruturais, gerando discussões sobre privacidade, escalabilidade e centralização, além de inevitáveis atrasos.
Novo sistema financeiro
Em agosto de 2023, o nome Drex foi oficialmente adotado. Essa mudança não foi apenas estética; refletiu a percepção de que o projeto ia além da definição clássica de uma moeda digital. O Drex passou a ser visto como um vetor para redesenhar a lógica do sistema financeiro brasileiro, ou seja, uma infraestrutura de liquidação tokenizada e programável, capaz de redefinir as relações entre instituições, ativos, contratos e consumidores.
Ainda estamos nos estágios iniciais. As primeiras transações com Drex-Reservas, em ambiente de testes, envolveram instituições financeiras negociando ativos públicos e privados tokenizados.
Mais do que uma nova tecnologia, estamos falando de uma nova lógica de funcionamento: interoperável, programável, distribuída — e, acima de tudo, construída de forma transparente.
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